sábado, 10 de novembro de 2018

Exército e Marinha brigam para conseguir a chefia do Ministério da Defesa

O processo de definição do futuro ministro da Defesa está obrigando o governo de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro, a aparar arestas no alto escalão das Forças Armadas. A possibilidade de um almirante de esquadra — o posto mais elevado da Marinha — assumir a pasta gerou ciúmes entre generais de Exército, os ocupantes do alto escalão da Força. Para eles, o comando do ministério deve permanecer com um integrante da cúpula. O atual ministro, general Joaquim Silva e Luna, é o primeiro general a ocupar o cargo desde a criação da pasta, em 1999.
A indicação de um almirante de esquadra foi sugerida pelo vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão. Até o início da semana, o general Augusto Heleno era cotado para assumir a Defesa. Com a confirmação da ida dele para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, o vice sinalizou que o ministério poderia ficar com um oficial general da Marinha, por um princípio de “equilíbrio” entre as Forças Armadas.
O vice não deixou claro se Bolsonaro estava “pensando em alguém da Marinha”. A declaração, no entanto, foi suficiente para incomodar generais de Exército. Por esse motivo, Bolsonaro ainda não bateu o martelo. Ontem, em vídeo ao vivo nas redes sociais, declarou que só não abrirá mão que seja um oficial general de quatro estrelas. “O resto a gente conversa. (Pode ser da) Marinha, Aeronáutica ou do próprio Exército. E confio em qualquer um que, porventura, chegue lá”, declarou.
Ao Correio, o general Heleno seguiu a mesma linha do presidente eleito. Disse que, independentemente do escolhido, Bolsonaro tem competência suficiente para indicar um bom nome. Contudo, tentou colocar panos quentes na disputa entre o Exército e a Marinha. “É uma decisão do presidente eleito. E não tem de ser, necessariamente, de uma dessas áreas das Forças Armadas.”
A deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) confirma que o nome está bem encaminhado, mas desconhece a possibilidade de ser um tenente-brigadeiro — oficial general de quatro estrelas da Aeronáutica. “A definição está entre alguém da Marinha e do Exército”, afirmou. Um integrante da equipe de transição de Bolsonaro, no entanto, disse que o Ministério da Defesa deve acabar ficando com um almirante de esquadra da Marinha.
Não faltam membros do alto escalão do Exército na equipe de Bolsonaro, ressaltou o membro do comitê. Cotado para assumir o Ministério da Infraestrutura, o general Oswaldo Ferreira, integrante do governo de transição, é do Exército. Heleno e Mourão, também. “É possível haver uma insatisfação ou outra, mas a própria equipe ministerial é uma resposta aos incomodados e respalda a decisão de Jair. O Exército está bem contemplado”, ponderou.
A escolha por um nome da Marinha está sendo avaliada com interlocutores mais próximos, como Heleno. Mas a opção por voltar atrás e indicar alguém do Exército não foi descartada. A meta é de que o sucessor na Defesa seja alguém respeitado dentro das Forças Armadas. Afinal, será o responsável por capitanear as três.

Critério
A propensão é que o critério de antiguidade seja respeitado para a definição dos sucessores das Forças Armadas. De acordo com Mourão, a possibilidade é de que o general de Exército, o almirante de esquadra ou o tenente-brigadeiro com mais tempo nas respectivas carreiras assuma o comando das Forças Armadas.
Os atuais comandantes das três forças não permanecerão no poder. Isso significa que o general do Exército Villas-Bôas, o almirante de esquadra Eduardo Bacellar e o tenente-brigadeiro Nivaldo Rossato deixarão de dirigir, respectivamente, Exército, Marinha e Aeronáutica. O Exército dispõe de 15 generais, a Marinha conta com seis almirantes de esquadra e a Aeronáutica tem oito tenentes-brigadeiros.
O analista político Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva Consultoria, explicou que, como o general Heleno escolheu o GSI para comandar, a expectativa é de que assuma alguém da Marinha. Assim, as duas áreas das Forças Armadas ganham protagonismo e articulação no futuro governo.

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