sexta-feira, 30 de novembro de 2018

PT se reúne pela primeira vez após derrota nas urnas para Bolsonaro

Na tentativa de reverter a situação delicada em que se encontra, a cúpula do PT se reúne hoje e amanhã,  pela primeira vez após a derrota nas urnas, para definir os próximos passos da sigla. A estratégia dos petistas é se reaproximar de setores, como o evangélico, criar uma unidade na esquerda e fazer uma autocrítica, mesmo que leve, para promover uma reforma interna. Isso sem abandonar a campanha pela libertação do ex-presidente Lula. Sem nomes para o front, o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner , desponta como bastião do partido no próximo governo.
Fernando Haddad, que disputou a presidência da República, está nos Estados Unidos e não participará do encontro do Diretório Nacional. Nele serão debatidos passos para os próximos meses, como a ideia de apostar no discurso de que o partido foi vítima de uma campanha terrorista. Certeza, mesmo, é o enfrentamento ao presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Wagner começa a se preparar para a sua atuação a partir de 1º de janeiro. Uma das principais medidas é se distanciar de Haddad. Interlocutores do senador eleito dizem que ele está em “resguardo” para não ser associado ao correligionário. Governador por duas vezes da Bahia, fez seu sucessor e conseguiu manter a influência no Nordeste. Quer firmar a posição de político bem-sucedido e com espólio.
A atual presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, eleita deputada pelo Paraná, saiu das urnas fragilizada e, para parcela dos petistas, sem condições de promover uma arrancada em prol do partido. Haddad já confidenciou à cúpula petista que não pretende assumir nenhum cargo no comando da agremiação.
“O partido precisa fazer um balanço dessas eleições para construir uma proposta alternativa. Haddad pode ser uma liderança importante nessa reconstrução, mas não se comporta assim. É preciso balancear forças de integrantes mais tradicionais e a de novos nomes”, comenta o cientista político e antropólogo Javier Amadeo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ao analisar o futuro do PT, Rui Tavares Maluf, cientista político e sociólogo da Universidade de São Paulo (USP), avalia que o sucesso do governo Bolsonaro pode atolar a sigla numa crise ainda mais profunda. “Se tiver êxito, pode dar fôlego ao desgaste do PT. Isso dependerá de como as demais oposições vão se organizar”, destaca.



Bancada

A bancada do PT na Câmara dos Deputados é, até agora, a maior, com 56 parlamentares, será a quinta legenda mais forte no Senado com seis representantes e tem a segunda maior bancada nas assembleias legislativas com 85 integrantes. No Executivo, conseguiu eleger quatro governadores — a maior quantidade para uma sigla.
É nesses números que os representantes da legenda se escoram para demarcarem espaço como oposição. “O resultado do processo eleitoral reafirmou a força do Partido dos Trabalhadores. Vamos resistir à construção anacrônica e obscurantista de justificar as políticas em função de inimigos imaginários, como o comunismo. O governo do PT foi de profunda ordem social e de eliminação das desigualdades”, defende a deputada federal reeleita Erika Kokay (PT-DF).
O deputado reeleito Paulo Teixeira (PT-SP) diz que os possíveis nomes de uma liderança petista ainda estão sendo discutidos. Mesmo com a tendência de isolamento da sigla, ainda existe a intenção de se unir ao PCdoB, PSol, PSB, PDT e até a Rede. “A nossa perspectiva é a formação de uma frente democrática para barrar o retrocesso do ponto de vista de valores representado pelo próximo governo. Precisaremos de rodízio de lideranças”, afirmou.

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