segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Campanha invade celebrações religiosas em Canindé

Na reta final da campanha, o debate político ganha fôlego e tem "invadido" setores da sociedade como a Igreja, colocando em xeque a neutralidade das instituições religiosas diante da polarização na disputa eleitoral. No Ceará, a romaria de São Francisco das Chagas, em Canindé, que acontece até a próxima quinta feira (4), por exemplo, é rota certa de postulantes, por ser um evento que reúne
milhares de féis.
Não bastasse a investida de figuras políticas do cenário local, porém, a Igreja também se tornou palco de manifestações a favor e contra candidaturas à Presidência da República. Um reflexo da divisão que vive o País nas eleições deste ano.
No último dia 16 de setembro, a poucos dias do início da Romaria de São Francisco, que acontece desde a última segunda-feira (24), um fiel que participava de missa no Santuário de Canindé aproveitou um espaço reservado para avisos ao final da celebração religiosa para convocar todos os presentes a participar de um ato político a favor do ex-presidente Lula (PT).
O vídeo do episódio, que circula nas redes sociais, mostra que fiéis contrários ao ex-presidente petista reagiram, imediatamente, e manifestaram apoio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), aos gritos de "mito", em referência ao militar.
O ato provocou uma nota de repúdio do reitor do Santuário, frei Marconi Lins, que gravou um vídeo criticando o uso político e "desrespeitoso" do "recinto sagrado" para mobilizações políticas a favor e contra determinadas candidaturas.
Depois do episódio, na semana passada, em outra celebração no mesmo Santuário, a participação de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) gerou protestos de grupos de romeiros que entenderam aquele ato como político. O Diário do Nordeste visitou Canindé, ontem, e constatou que o clima entre fiéis e moradores da cidade é de irritação com a "interferência" de bandeiras políticas nas festividades religiosas.
"A gente vê com tristeza, porque é uma coisa que todos deveriam vir com o intuito de oração e vêm com espírito armado de querer se promover por uma coisa que a gente sabe que existe a briga (política) hoje e amanhã estão todos bem. Não devemos trocar uma coisa certa que é a nossa religião por política", argumentou o comerciante Cícero Paulino, 44 anos, natural de Canindé e um dos organizadores da tradicional romaria.
Ele armou não ver ifluen
ência de lideranças religiosas na disputa eleitoral, mas "pessoas infiltradas" na Igreja, militando em prol de determinado candidato. "A Igreja é feita por pessoas, e tem pessoas que não sabem dividir o que é certo e o que é errado, não sabem dividir o que é religião e o que é política. Uma coisa que é independente uma da outra".

(DN)

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