Por Francisco Leopoldo Martins Filho
Advogado
Ah, o Crato! Terra de cultura, de fé, de calor e... de polêmicas musicais dignas de novela das oito com roteiro do Agreste e direção do Cariri Profundo.
Dessa vez, o protagonista é ninguém menos que Luiz Fidelis, patrimônio vivo da música nordestina, compositor de alma e voz que ecoa além da chapada. Mas parece que para a organização da EXPOCRATO 2025, o talento dele tem CEP, e pior: tem teto de cachê!
Pois é, senhores e senhoras. A justificativa para cancelar a apresentação de Fidelis não foi técnica, nem artística, nem mesmo de agenda. Foi geográfica. Como ele mora na região, a régua usada foi a do “cachê local”. Ou seja: canta bonito, mas mora perto? Então ganha pouco. Um critério, no mínimo, bizarro, disfarçado de racionalidade orçamentária, que na prática soa mais como um “você é bom, mas não vale tanto porque não veio de avião”.
Afinal, o homem que compôs “Espumas ao Vento”, eternizada por Fagner, e outras tantas que embalam gerações nordestinas, virou agora “cantor local”, como se fosse um cover de bar de quinta-feira. Se tivesse nascido em São Paulo e mudado pro Crato ontem, talvez o cachê fosse maior. Vai entender…
O que deveria ser motivo de orgulho para o festival — prestigiar um artista da terra com renome nacional — virou um gesto de desprestígio disfarçado de "justiça contratual". Uma política de valorização que, na prática, desvaloriza. Um critério que além de desigual, tem um quê de discriminação invertida: “morou aqui, virou figurante.”
E mais: trata-se de um precedente perigoso, que pode contagiar outros eventos culturais: “Ah, o cineasta é do Cariri? Então exibe o filme, mas sem ajuda de custo.” “O escritor é da região? Faz a palestra, mas só recebe o lanche.” — E assim a gente afunda o próprio chão cultural onde pisa.
Luiz Fidelis não é “só mais um cantor da região”. Ele é símbolo, é história, é memória viva de um povo. Sua música não tem limites geográficos — ela toca onde houver alguém com coração nordestino, ou com saudade de um.
É como querer pagar pouco por uma obra de arte porque o artista é vizinho. É como querer pagar meia em emoção.
A EXPOCRATO pode ser grande, mas perde um pouco da alma quando se esquece de honrar aqueles que deram alma à cultura local. Que esse “cancelamento” seja lembrado como um tropeço — e não como política de praxe.
Porque cultura não se mede por quilômetros, mas por legado.
E nesse quesito, Luiz Fidelis já é imensurável.