terça-feira, 29 de julho de 2025

Morango do Amor e Fome de Justiça


Por: Leopoldo Martins Filho

Enquanto aqui a moda é postar reels lambendo o tal “morango do amor” — um morango enfeitado de brigadeiro, granulado, leite condensado e um rim parcelado no Pix —, em Gaza, a única coisa que se espalha mais rápido que a tendência é a fome. Lá, não se escolhe entre cobertura de chocolate ou Nutella. Escolhe-se entre comer ou sobreviver. Às vezes, nem isso.

É curioso como o algoritmo nos empanturra de doces enquanto o mundo amarga tragédias. O mesmo dedo que dá zoom na fruta caramelada ignora as imagens de crianças pele e osso dividindo pacotes de farinha vencida. E tudo segue, embalado ao som de trend comediante.

Comem-se morangos gourmetizados com a boca cheia, enquanto se assiste à fome alastrar com olhos vazios. Tudo isso ao som de “Ai, que delícia!”, enquanto em Gaza o grito é outro: “Ajudem!”

Não se trata de culpa por saborear um doce, mas talvez de um certo amargor moral por não saborear o senso de humanidade. Se metade do fervor dedicado ao morango do amor fosse canalizado pra exigir o fim de bloqueios, bombas e descaso, talvez o mundo fosse um pouco menos indigesto.

No fim das contas, o verdadeiro “doce da moda” deveria ser a compaixão — mas esse, infelizmente, ainda não viralizou.

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