Por: Leopoldo Martins Filho
Advogado
Membro Efetivo Comissão Eleitoral da OAB/CE
Membro Consultivo da Comissão Especial Eleitoral da OAB/NACIONAL
Já parou pra pensar como o medo foi se espalhando? Não o medo de monstros ou escuro — mas o medo sutil, cotidiano, disfarçado de prudência, que foi tomando os espaços mais íntimos da nossa existência. Medo de falar o que pensa. Medo de viver a própria fé. Medo de formar uma família. Medo, até, de ser quem se é.
Vivemos uma era marcada pela contradição. Nunca se falou tanto em liberdade, diversidade e direitos. E, ainda assim, nunca tantos se calaram com tanto receio. A liberdade prometida parece, muitas vezes, ter vindo com cláusulas ocultas: "Você é livre, desde que pense como o grupo." "Você pode ser quem quiser, desde que caiba nos rótulos da vez." É como se o medo tivesse deixado de ser uma reação instintiva ao perigo e se tornado uma política de convivência.
A raiz desse novo medo não está apenas nos discursos autoritários ou no extremismo ideológico — embora esses alimentem a fogueira. O medo contemporâneo cresce também nas redes sociais, onde cada opinião vira alvo de julgamento imediato. Cresce nos ambientes profissionais, onde dizer o que se pensa pode custar reputações. Cresce nas rodas familiares, onde o diferente é muitas vezes visto como ameaça.
O medo que nos cerca hoje é sofisticado. Ele não precisa de grades, mas nos aprisiona. Nos ensina a medir cada palavra, a esconder convicções, a camuflar identidades. E o silêncio que ele impõe não é paz — é opressão disfarçada.
Mas e se, ao invés de nos calarmos, aprendêssemos a ouvir e a falar com respeito? E se convivência significasse mesmo conviver com o diferente, e não apenas tolerar o que é igual? A coragem, hoje, talvez esteja menos em gritar do que em sustentar com serenidade aquilo em que se acredita. A coragem de ser autêntico, mesmo quando o ambiente parece não acolher.
O medo se espalhou. Mas também pode recuar. Basta que um comece a dizer: "Penso diferente, e está tudo bem." Um gesto assim pode ser o início de uma cura coletiva. O medo cala. Mas a verdade, dita com respeito, ainda tem poder de libertar.