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Foto: Flávio Pinto |
Por Leopoldo Martins
Advogado
A cada novo ciclo eleitoral, a cidade do Crato — historicamente rica em cultura, pensamento crítico e participação popular —, torna-se palco de uma disputa política desigual e repetitiva. Figuras externas, muitas vezes sem vínculos reais com a população local, descem de paraquedas na disputa por vagas na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, munidas de verbas generosas, discursos prontos e acordos firmados nos bastidores do poder. São os chamados “candidatos paraquedistas”, que aparecem durante o período eleitoral e somem após o último voto contado.
Os interesses locais são frequentemente deixados de lado em nome de alianças partidárias costuradas longe do Crato, por lideranças que enxergam o município como curral eleitoral e não como uma comunidade com demandas urgentes em áreas como saúde, educação, mobilidade urbana e desenvolvimento sustentável.
Além da presença dos paraquedistas, outro fator compromete o avanço democrático no Crato: a castração sistemática de novas lideranças políticas locais. Muitos partidos comandados por chefes eleitorais — muitas vezes há décadas no poder — seguem sob o controle de caciques eleitoreiros, que impedem o surgimento de nomes autênticos e comprometidos com as pautas populares. Jovens, mulheres, lideranças comunitárias e intelectuais com ideias inovadoras são ignorados ou silenciados por estruturas partidárias conservadoras que privilegiam o continuísmo e os conchavos.
Esse bloqueio institucionalizado cria um vácuo de renovação e impede a construção de um projeto político enraizado nos anseios reais da população. A cidade permanece refém de promessas ocas e mandatos distantes, sem resultados práticos para sua população.
Mais do que nunca, é preciso repensar a forma como a política é feita no Crato. A cidade necessita de representantes com raízes locais, que conheçam os desafios enfrentados pelos cratenses e estejam comprometidos com um plano de desenvolvimento que vá além do assistencialismo e dos interesses pessoais. O futuro do município passa pela formação de uma nova geração de lideranças políticas, capazes de romper com a lógica do clientelismo e da dependência partidária, promovendo uma política transparente, participativa e centrada no bem comum.
O Crato precisa de políticos, não de visitantes eleitorais. Precisa de projetos, não de promessas. E, sobretudo, precisa de coragem para enfrentar os velhos caciques e construir um novo caminho — feito por e para o povo cratense.