quarta-feira, 21 de maio de 2025

Artigo - "Valorizar os Artistas Locais é Valorizar a Identidade da Expocrato"



Por Francisco Leopoldo Martins Filho

Advogado

Membro Efetivo da Comissão Eleitoral da OAB/CE


A Expocrato, uma das maiores feiras agropecuárias e culturais do Nordeste, sempre foi símbolo de tradição, economia, cultura e identidade regional. No entanto, ano após ano, cresce um incômodo perceptível entre artistas, produtores locais e o público mais atento: a desigualdade no tratamento dado aos artistas da casa em comparação com os artistas que vêm de fora.

É inegável a importância de atrações nacionais para o fomento do turismo e a projeção do evento em nível mais amplo. Entretanto, essa valorização não pode – nem deve – ocorrer à custa da desvalorização dos artistas locais, que são a expressão viva da cultura que a Expocrato, em sua essência, deveria exaltar.

Quando um evento de grande porte investe em estrutura de palco, som, luz e logística de alto padrão para artistas de fora, mas reserva espaços improvisados, com equipamentos inferiores e horários secundários aos artistas regionais, ele passa a transmitir uma mensagem clara: os da casa não merecem o mesmo respeito.

Ora, se a proposta da Expocrato é celebrar a força da agropecuária do Cariri em conjunto com a cultura local, como justificar esse desequilíbrio de tratamento? A música, o teatro, a dança e outras manifestações artísticas nascidas neste solo também são frutos da terra – tanto quanto o gado, o milho e a farinha. E merecem o mesmo cuidado e destaque.

Mais do que entretenimento, os artistas locais carregam histórias, sotaques, ritmos e saberes que reforçam a identidade caririense. São eles que dão cor e alma à festa, que se apresentam nas praças, nos coretos, nas feiras livres, e que mantêm viva a tradição da região ao longo de todo o ano – não apenas durante a semana da Expocrato.

Negligenciar a estrutura oferecida a esses artistas é não reconhecer seu valor cultural, econômico e simbólico. É enfraquecer uma cadeia produtiva que movimenta estúdios, oficinas, grupos culturais, escolas de música e redes de formação artística.

É preciso, portanto, repensar com urgência o modelo de valorização artística do evento. A estrutura profissional deve ser igualitária – para quem vem de fora e para quem é da terra. Isso não é apenas uma questão de justiça cultural, mas também uma forma de estimular o orgulho local e promover o desenvolvimento econômico da região de forma sustentável.

A Expocrato tem força, tradição e visibilidade suficientes para ser exemplo de um evento que valoriza a própria cultura com o mesmo entusiasmo com que atrai estrelas nacionais. E esse reconhecimento começa ao garantir condições dignas e igualitárias para todos os artistas que sobem ao palco – sejam eles de fora ou do coração do Cariri.


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