Por Francisco Leopoldo Martins Filho
Advogado
Membro Efetivo da Comissão Eleitoral da OAB/CE
A crença de que a política é uma arena racional de confronto entre ideias e projetos de sociedade é, hoje, uma ilusão reconfortante. A realidade nos mostra outra coisa: a política contemporânea se desenrola cada vez menos como debate e cada vez mais como espetáculo. A lógica que predomina é a do marketing — não a do convencimento, mas a da conquista da atenção, da emoção e da confiança.
Não se trata de novidade absoluta. Desde sempre, lideranças carismáticas dominaram corações antes de ocupar cargos. Mas a profissionalização da comunicação política, acelerada pela tecnologia digital e pelas redes sociais, levou esse fenômeno a outro patamar. Candidatos não são mais apenas representantes de propostas — são marcas. Narrativas substituem programas, e sentimentos sobrepõem-se aos fatos.
Hoje, o sucesso político depende menos do conteúdo e mais da forma. Um político não precisa explicar suas ideias com profundidade; basta ser percebido como "autêntico", "do povo", ou "contra o sistema". Palavras-chave que não esclarecem, mas seduzem. Emoções como medo, indignação, esperança ou nostalgia são armas de persuasão mais poderosas do que argumentos racionais. Afinal, o eleitor não é um leitor de planos de governo — é um espectador com tempo limitado e paciência curta.
Nesse cenário, a disputa política se transforma em uma guerra de narrativas. As campanhas investem pesado em storytelling, em memes, em vídeos curtos e impactantes. A construção de vilões e heróis é mais eficaz do que qualquer tabela de dados. E quem domina os algoritmos, domina o debate. Não porque tem a melhor proposta, mas porque sabe gritar mais alto, no momento certo, com as palavras certas.
Esse desvio da política como espaço de deliberação para um campo de batalha simbólico é perigoso. Reduz a complexidade dos problemas sociais a slogans, transforma eleitores em torcedores e desestimula o pensamento crítico. E, sobretudo, mina a própria democracia, que se enfraquece quando a confiança se baseia em percepções fabricadas e não em compromissos reais.
A solução não é rejeitar o marketing, mas compreendê-lo e regulá-lo. A política moderna exige comunicação eficaz, sim, mas exige também responsabilidade e ética. É preciso recuperar a centralidade do conteúdo, do debate público qualificado e da transparência.
Enquanto a política for dominada por marqueteiros e influenciadores, e não por estadistas e ideias, estaremos sempre à mercê do próximo truque emocional. E nesse jogo, ganha quem manipula melhor, não quem propõe melhor.