quinta-feira, 23 de abril de 2020

Futuro do diretor da PF é incerto. Se ele sair, Moro fica desacreditado, diz líder dos delegados


Diante da informação ainda não confirmada de que o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, será demitido do cargo, o presidente da Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Felix de Paiva, disse ao Congresso em Foco que o ministro Sergio Moro pode sair em descrédito nessa disputa.

"Em outros momentos ele tentou politicamente manter e manteve o diretor-geral. Só que tem certos momentos a situação não tem outra saída. A depender como acontecer, a saída do doutor Valeixo deixa o doutor Moro em descrédito, em desprestígio. Porque é um nome diretamente ligado a ele", afirmou.
Segundo Paiva, Valeixo tem demonstrado desânimo ultimamente. "Ele tem dito que sente orgulho de ser diretor da polícia, é um policial que ama a Polícia Federal. Mas que a posição dele é muito incômoda, desde o ano passado está nessa situação de 'vai trocar, não vai trocar'. Ele não fez nada de errado, não deu nenhuma declaração que tenha contrariado o presidente, enfim. Me parece uma posição mais política do que técnica", afirmou o presidente da ADPF.

Apesar do desgaste causado pelas tentativas de Bolsonaro de demiti-lo, Valeixo é respeitado "quase de forma unânime" dentro da Polícia Federal, segundo o delegado. Brasília ainda vive sob a expectativa de um pronunciamento do ministro Sergio Moro. Até o momento, o ministro se limitou a dizer, por meio de sua assessoria, que não confirmava a informação de que havia pedido demissão do cargo. Segundo a Folha de S.Paulo e o site O Antagonista, o ex-juiz pediu demissão em resposta à mudança no comando da PF.

Edvandir Paiva acredita que o problema de ingerência sobre a PF poderia ser evitado se as regras para a escolha do comando da instituição fossem outras. "A Polícia Federal não tem mandato e nem autonomia. Eu estou na ADPF há três anos e se for confirmada a demissão de Valeixo, eu vou para o quarto diretor federal. Quarto diretor federal em três anos. A PF é um órgão público bastante expressivo e trocas no comando da PF o tempo inteiro prejudicam andamentos da polícia e só tem um jeito de proteger, com mandatos e autonomia administrativas", disse.

Existem duas propostas de emenda à Constituição (PEC) no Congresso Nacional neste sentido. A PEC 412 foi apresentada em 2009 e segue parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Já a PEC 101/2015 foi arquivada no Senado, no final de 2018.

Ameaças antigas
Em agosto de 2019 o presidente Bolsonaro já havia tentado trocar o diretor-geral da PF. O presidente levantou essa hipótese para defender seu direito de intervir na Polícia Federal em um momento em que o que estava em disputa era a troca de superintendentes. "Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze [superintendentes] foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um estado para ir para lá: 'Está interferindo'. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral", ameaçou.

Questionado sobre uma possível troca de Valeixo, Bolsonaro afirmou que este é o seu direito. "Se eu trocar hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico e não o Sergio Moro. E ponto final", disse.

(Congresso em Foco)

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