domingo, 10 de agosto de 2025

“Bom dia, prefeito!” – O teste de audição política de Santa Baldônia


Por: Leopoldo Martins Filho

Advogado

Membro Efetivo da Comissão Eleitoral da OAB/CE

Membro Consultor da Comissão Especial Eleitoral da OAB/NACIONAL

Na gloriosa e inventada cidade de Santa Baldônia do Norte, o prefeito Ednaldo P. Magnânimo decidiu que era hora de se aproximar ainda mais do povo… ou, ao menos, do próprio espelho. Como todo bom político moderno, entendeu que a maneira mais eficaz de mostrar “trabalho” é com um vídeo impecável em sua rede social pessoal.

A produção? Profissional de dar inveja a cineastas. Câmeras 4K, iluminação digna de comercial de perfume, microfone de estúdio e até voz de locutor anunciando: “Em um mundo… onde a liderança é testada, um homem enfrenta o maior desafio de sua carreira…”. E lá estava ele, sentado numa poltrona de couro, expressão séria, como se refletisse sobre o orçamento da cidade — ou sobre o almoço.

O ápice do roteiro era um “teste” para provar que o prefeito conhece bem sua equipe. Atrás dele, em fila, dezesseis assessores aguardavam. Cada um deveria se aproximar do microfone e dizer:

— Bom dia, prefeito!

Com olhos fechados, Ednaldo tinha a missão de identificar cada voz. A promessa era mostrar intimidade, sintonia e liderança de proximidade. O resultado mostrou outra coisa.

Dos dezesseis participantes, o prefeito acertou… cinco. Sim, cinco. Os outros onze receberam respostas vagas como: “Você é o rapaz da…?” ou “Ah, sei quem é… próxima!”. A cidade descobriu, em tempo real, que seu líder reconhece melhor a voz do narrador do vídeo do que de boa parte da própria equipe.

O detalhe? Todo esse espetáculo foi publicado em seu perfil pessoal, não nos canais da prefeitura. Nada mais natural que usar recursos e estrutura para alimentar a imagem pública — de si mesmo, não da administração. A legenda era um clássico da autopromoção:

“Gratidão a esse time maravilhoso! Juntos por uma Santa Baldônia melhor!”

O vídeo viralizou. Moradores riram, criaram memes, e a oposição sequer precisou trabalhar — a sátira já estava pronta e com trilha sonora.

No fim, a moral foi simples: em política, reconhecer a cidade é importante, mas reconhecer quem trabalha ao seu lado talvez seja ainda mais. Em Santa Baldônia, porém, a regra é outra: se a voz não render voto, o ouvido do prefeito parece não registrar.

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