Por: Leopoldo Martins Filho
Advogado
Membro Efetivo da Comissão Eleitoral da OAB/CE
Membro Consultor da Comissão Especial Eleitoral da OAB/NACIONAL
Na gloriosa e inventada cidade de Santa Baldônia do Norte, o prefeito Ednaldo P. Magnânimo decidiu que era hora de se aproximar ainda mais do povo… ou, ao menos, do próprio espelho. Como todo bom político moderno, entendeu que a maneira mais eficaz de mostrar “trabalho” é com um vídeo impecável em sua rede social pessoal.
A produção? Profissional de dar inveja a cineastas. Câmeras 4K, iluminação digna de comercial de perfume, microfone de estúdio e até voz de locutor anunciando: “Em um mundo… onde a liderança é testada, um homem enfrenta o maior desafio de sua carreira…”. E lá estava ele, sentado numa poltrona de couro, expressão séria, como se refletisse sobre o orçamento da cidade — ou sobre o almoço.
O ápice do roteiro era um “teste” para provar que o prefeito conhece bem sua equipe. Atrás dele, em fila, dezesseis assessores aguardavam. Cada um deveria se aproximar do microfone e dizer:
— Bom dia, prefeito!
Com olhos fechados, Ednaldo tinha a missão de identificar cada voz. A promessa era mostrar intimidade, sintonia e liderança de proximidade. O resultado mostrou outra coisa.
Dos dezesseis participantes, o prefeito acertou… cinco. Sim, cinco. Os outros onze receberam respostas vagas como: “Você é o rapaz da…?” ou “Ah, sei quem é… próxima!”. A cidade descobriu, em tempo real, que seu líder reconhece melhor a voz do narrador do vídeo do que de boa parte da própria equipe.
O detalhe? Todo esse espetáculo foi publicado em seu perfil pessoal, não nos canais da prefeitura. Nada mais natural que usar recursos e estrutura para alimentar a imagem pública — de si mesmo, não da administração. A legenda era um clássico da autopromoção:
“Gratidão a esse time maravilhoso! Juntos por uma Santa Baldônia melhor!”
O vídeo viralizou. Moradores riram, criaram memes, e a oposição sequer precisou trabalhar — a sátira já estava pronta e com trilha sonora.
No fim, a moral foi simples: em política, reconhecer a cidade é importante, mas reconhecer quem trabalha ao seu lado talvez seja ainda mais. Em Santa Baldônia, porém, a regra é outra: se a voz não render voto, o ouvido do prefeito parece não registrar.