terça-feira, 8 de agosto de 2023

Mulheres desistem de depor em caso de violência sexual após falas machistas de juiz


Reprodução CETV


Pelo menos duas mulheres desistiram de testemunhar na ação cível movida contra um médico de Juazeiro do Norte, no Ceará, após falas machistas do juiz que conduzia audiência no último dia 26 de julho. Caso pedidos da defesa não sejam atendidos, vítimas de crime sexual voltarão a ter audiência com juiz que afirmou que mulheres são "bicho da língua grande" e que "chutam as partes baixas" dos homens. A Corregedoria-Geral da Justiça do Ceará abriu sindicância para apurar o caso.

Se o juiz Francisco José Mazza Siqueira continuar na condução do caso, as pessoas envolvidas na ação terão uma próxima audiência com ele em fevereiro de 2024, explica o advogado Aécio Mota, que defende a vítima que moveu a ação.

O processo pede indenização pelo trauma sofrido após uma mulher ter sido abusada durante atendimento do médico e acupunturista Cícero Valdizébio Pereira Agra. As primeiras denúncias contra o médico vieram à tona em 2021.

"Quem acha que mulher é boazinha, estão tudo enganado, viu. Eita bicho... bicho de mão pesada, bicho da língua grande e que chuta as partes baixas é mulher", disse o juiz Francisco José Mazza durante audiência.

Na audiência realizada no Fórum de Juazeiro do Norte, havia pelo menos dez mulheres: eram testemunhas em favor da vítima, uma das advogadas da vítima e testemunhas em favor do médico.

Ainda durante a audiência, o juiz Francisco José Mazza afirmou que era assediado por mulheres quando era professor.

"Tinha aluna que chegava se esfregando em mim – aqui não tem nenhuma criança, todo mundo é adulto –, e dizia: 'professor, não sei o quê, não sei o quê...' Eu dizia: 'minha filha, é o seguinte, quando eu deixar de ser seu professor, você faça isso comigo'."

Após falas do juiz, testemunhas que trariam depoimentos contra o médico afirmaram ao advogado que não têm condições psicológicas de sentar mais uma vez de frente com o magistrado.

“A gente está trabalhando para que isso não aconteça, para que o processo seja julgado por outro juiz”, explica o advogado ao g1. Até o fim desta semana, Aécio deve protocolar medidas junto aos órgãos competentes, como o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE).

"Essas vítimas, toda vez que elas têm que relatar tudo isso de novo na frente de alguém, que normalmente é homem, é como se elas tivessem passando pelo abuso tudo de novo. Então esse trauma psicológico é reavivado em todas as vezes que elas têm que passar por isso", comenta o advogado Aécio Mota.

Outro ponto a ser questionado é a presença do médico Cícero Agra na audiência. "A gente vai recorrer porque a gente quer também que as vítimas sejam ouvidas por videoconferência. Elas não têm condições de estar no mesmo ambiente do médico, na presença do abusador", acrescenta.

(As informações são do portal g1/ce)

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