segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Obras do Rio São Francisco retomam o ritmo acelerado para garantir que as águas cheguem ao Ceará

Aquele cenário de veículos parados, funcionários deitados em horário de trabalho por falta de equipamento e movimentação pequena nos canteiros de obras mudou. Desde que o consórcio Ferreira Guedes - Toniolo, Busnello assumiu as obras da primeira etapa do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), em maio, o número de contratações aumentou e o ritmo foi alterado. Segundo o Ministério da Integração Nacional, mais de 1.900 homens trabalham na Meta 1N em Salgueiro (PE) e Penaforte (CE).
 A Pasta afirmou que as frentes de serviço estão atuando em turno de 24 horas para garantir o cumprimento do cronograma. A informação foi confirmada pela equipe do Diário do Nordeste, com os moradores das comunidades próximas às obras. A promessa é que, até o fim de 2018, a água do “Velho Chico” chegue em solo cearense. Com 96% de avanço físico, o Eixo Norte, quando concluído, poderá assegurar o abastecimento para 7,1 milhões de pessoas nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O Eixo Norte tem, ao todo, 260 quilômetros de extensão, distribuídos em três etapas: 1N, 2N e 3N. São três estações de bombeamento, 15 reservatórios, oito aquedutos e três túneis. No último mês de julho, os testes da terceira estação de bombeamento (EBI-3), em Salgueiro - a maior estação elevatória de toda a Integração do São Francisco, foram iniciados. Naquele mesmo mês, foi concluída a escavação do túnel Milagres, na divisa entre Ceará e Pernambuco. A estrutura possui quase 1 km de extensão e 9 m de diâmetro. Estes dois locais são considerados os pontos mais complexos da obra.
As águas do São Francisco já avançam por 80 quilômetros dos canais do Eixo Norte até a EBI-3. Mas ainda há muita coisa a ser feita, como o piso e acabamento interno do túnel, que já foram iniciados e sua obra vara a madrugada, incomodando, inclusive, os moradores da comunidade de Montevidéu, em Salgueiro (PE), por causa do barulho produzido pelo sistema de ventilação.
Além disso, muitos trechos ainda não foram canalizados ou tiveram que ter as placas recolocadas. Às margens da BR-116, duas pontes estão em construção, mas ali o ritmo é lento. No Sítio Lagoa Preta, em Penaforte, por exemplo, cerca de 10 homens trabalham no serviço. Mais à frente, pouco antes do limite com o município de Jati, outra estrutura segue em execução, mas com um número pequeno de trabalhadores. Uma terceira ponte, no Sítio Juá, esteve abandonada a poucos dias, segundo os moradores.

Reivindicações
O agricultor João Genuíno Mathias, de Penaforte, que acompanha a obra em sua comunidade há 9 anos, conta que apesar de quatro consórcios já terem assumido o trecho, o avanço é lento. “Eu mesmo não tenho fé de ver essa água passar não”, admite. Mesmo que as águas do Velho Chico passem próximas à sua roça, ele está pessimista. “Eu perguntei (sobre a água) a um funcionário que me disse que não podia nem olhar pra água. Não sei se era brincadeira dele”, narra o agricultor.
Na sua comunidade, ele e outros moradores ficaram insatisfeitos com o valor da indenização paga pelo Ministério da Integração. “Foi R$ 25 mil por 50 tarefas de terra (unidade de medida). R$ 500 por tarefa. Não agradou”, garante.
Mesmo com a obra perto do fim, muitas insatisfações têm surgido nas comunidades que estão no trajeto das águas. No próprio Montevidéu, em Salgueiro, um túnel fica abaixo das casas, e 46 famílias foram retiradas pelo risco na estrutura dos imóveis. As explosões causaram rachaduras nas paredes de muitos deles e o piso acabou cedendo. Segundo o Ministério da Integração, os moradores afetados foram assistidos pelo Programa de Transferência Temporária (PTT), que prevê o pagamento de R$ 1.254,28 para os casos de realocação provisória.
No entanto, outros imóveis apresentaram danos em suas estruturas e seus moradores ainda permanecem no local. Uma mulher, que não quis se identificar, exibiu as rachaduras na sua cozinha e o piso cedendo. “Ninguém veio aqui”, afirmou. O Ministério da Integração garantiu que todos os danos identificados nas residências serão reparados pelas empresas responsáveis.
Além disso, ainda existe a preocupação de que ex-funcionários do antigo consórcio, a Emsa-Siton - que abandonou a obra por falta de recursos, e empresas terceirizadas voltem a protestar por antigos débitos. O último grande protesto aconteceu no dia 1º de junho, quando os trabalhadores bloquearam a entrada do canteiro de obras em Penaforte por cinco dias.

Roteiro da água
Após concluído o Eixo Norte, a água do São Francisco será distribuída pelo solo cearense a partir de Jati, quando encontrará o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), obra estadual, e seguirá pelo chamado “trecho emergencial”, que possui 53 km de extensão e está concentrado nos lotes 1, 2 e 5. De lá, deve percorrer canais, túneis e sifões até o Riacho Seco, em Missão Velha, seguindo por gravidade, em 13 km, até o Rio Salgado, desaguando no Jaguaribe, que abastece o Açude Castanhão. Entre as últimas promessas do governo federal, essas águas chegariam à Região Metropolitana de Fortaleza ainda em 2018.
(DN)


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